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quarta-feira, novembro 28, 2007

Movimento "Cansei de viver em um país injusto"

Meu pai é bancário. Ele trabalha há anos nisso. Quem já trabalhou em banco sabe – aquilo é uma rede de intrigas. Orgulho, preconceito, inveja, insegurança e ciúme se misturam no dia a dia dos funcionários.

Meu pai trabalha com uma pessoa que tem inveja dele – a chefe. A coitada – sim, porque a gente tem que ter pena de uma pessoa assim – manda e desmanda nas funcionárias do meu pai (que é um cargo abaixo dela) sem avisá-lo; além de falar para outras pessoas ficarem em seu lugar quando ela sair de férias, uma política claramente condenada e proibida pelo RH da empresa.

Uma de suas funcionárias surtou. Pediu para ser transferida. O diretor do departamento negou. "O que o RH vai pensar de mim se ela sair agora?", ele disse, já imaginando que sua má administração seria descoberta. Na frente do meu pai e de outra pessoa, ligou para o RH e suspendeu toda e qualquer possibilidade de promoção (e aumento) dessa funcionária.

Na semana passada, ele me contou sobre uma outra funcionária, em outro departamento, que saiu do banco. Pediu as contas. Aparentemente, o diretor da área dela, recém-casado (depois de namorar durante 12 anos, foi gentilmente pressionado a se enlaçar definitivamente para subir de cargo), passou algumas cantadas nela. A moça, casada, resolveu sair. Não sem antes revelar ao meu pai que, até mesmo no dia do casamento dele, ela sofreu uma abordagem romântica. A história, claro, ficou por isso mesmo.

Também ontem à noite, conversei com uma funcionária aqui da empresa em que eu estou agora. Ela está aqui há 20 anos. Disse que nunca viu um desleixo tão grande com o funcionário. Diversos profissionais estão deixando a casa em busca de novos desafios e, claro, um melhor tratamento. O problema é que o mercado do jornalismo está tão saturado que a empresa deixa ir embora seus talentos. Como se dissesse "Ok, se você não quer, existem tantos outros que querem".

Estou escrevendo este post porque cansei. Estou exausta de ver tantas injustiças, todos os dias, nos jornais, nas revistas, na televisão, mas principalmente, no cotidiano. A moça que foi reclamar da má administração ficou presa no departamento por orgulho; a outra que sofreu assédio sexual preferiu se retirar em silêncio. E quem precisa de emprego tem que se sujeitar a todo tipo de falcatruas e estresse no ambiente de trabalho, simplesmente porque os que têm o poder de fazer alguma coisa preferem direcionar esse poder para fazer o bem unicamente para si.

Eu sofri assédio moral da minha antiga chefe. E resolvi denunciar ao RH. Apesar de ter surtido efeito, de eu ter conseguido me sair bem, sei que isso é exceção. Na verdade, me dei porque consegui fazer amigos em outras áreas, mas fui demitida por ter ido pedir meus direitos. Funcionário que vai ao RH reclamar do ambiente, do direito de trabalhar em paz e manter a sanidade mental e física, deve ser extinto das empresas. Ele gera problema; é subversivo. Não vale a pena ser mantido no quadro alguém que vai questionar, mesmo que esporadicamente, as regras do jogo.

Me lembrei agora que o Brasil não é mais uma ditadura militar. Mas ela se transferiu, na surdina, para as grandes corporações instaladas por aqui.

[Atualizando]

"Para nossa sensibilidade ocidental, uma história dessas remete a ritos medievais e inaceitáveis. Mas a desdita da garota de Qatif podia ser pior. E se ela tivesse de cumprir seus seis meses de prisão numa cela brasileira?"

Ruy Castro, em artigo publicado hoje na Folha de S.Paulo, referindo-se à garota saudita que levou 200 chibatas e foi sentenciada a seis meses de prisão depois de ter sido estuprada. O link do artigo é este aqui (só para assinantes).

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