Cansada

Cansei de uma maneira intensa, forte, praticamente uma rocha. Me sinto exausta, exaurida, completamente desestruturada. Abrir os olhos pela manhã é um martírio. As cores, as formas, os raios de sol que começam a invadir o quarto. Tudo me irrita. Tudo me é incrivelmente... chato. Tedioso. Arrastado. Até os carros que passam apressados pela rua. O vendedor de pães, tocando a estridente buzina de sua bicicleta anos 60.

Sempre finjo por alguns minutos que ainda não acordei. Uma atitude ridícula, afinal, é impossível fingir para a própria mente que se está em sono profundo. Mantenho os olhos fechados, implorando por mais alguns segundos daquele torpor, aquela inconsciência tão abençoada. A necessidade de estar fora do ar, do mundo, das coisas ao meu redor, é algo que tem aumentado dia a dia dentro de mim. Uma vontade, quase uma obsessão, de ser invisível, ou ao menos sentir-me invisível.

É claro que a vida seria muito mais simples houvesse a chance de desaparecer quando queremos. E a vida é tudo, menos simplicidade. É complexa em cada meandro de sentimentos que fazem de nós, nós mesmos. É difícil, tortuosa, ao mesmo tempo que consegue encantar e fascinar. Às vezes, penso que deveria ser mais fácil. Para logo depois sentir que, se fosse mais fácil, não seria viver. Não seria descobrir, experimentar, sentir medo, alívio, ansiedade, alegria.

Talvez, na verdade, a dificuldade em despertar esteja na falta do viver. Do sentir que existe um caminho, longo, tortuoso, vistoso, a ser percorrido logo mais, ali na frente, entre os pedregulhos. Basta acreditar que, ao virar uma esquina, um novo jardim florido se fará visível.

Basta acreditar. De olhos bem abertos.