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terça-feira, fevereiro 09, 2010

É tudo

"Como repórter, já escutei sobreviventes das mais diversas tragédias, ou apenas diante da catástrofe inescapável que é o fim da nossa história quando a vida chega ao fim. Ninguém sente saudades do momento em que teve seus 15 minutos de fama ou brilhou em algum palco ou ganhou um aumento de salário ou foi chefe de alguma coisa ou botou um peito turbinado ou emagreceu seis quilos ou comprou uma casa ou um carro zero ou uma TV de tela plana. Diante do momento-limite, somos levados não aos grandes bens ou aos grandes planos, mas aos detalhes cotidianos que em geral passam despercebidos, quase esquecidos em nossa pressa rumo às grandes aspirações. O que nos falta é aquilo que nos preenche a cada dia sem que nos demos conta. Aquilo para o qual, em geral, não temos tempo.

Será que é preciso quase morrer para lembrar de viver?"


Essa frase poderia muito bem ser minha. Mas não é. Faz parte de um texto belíssimo, escrito com muita sensibilidade pela jornalista Eliane Brum (que você ler na íntegra aqui - e eu recomendo de verdade que você o faça). Um texto que, por uma dessas "coincidências" da vida, veio cair na minha tela de computador ontem pela tarde.

Esse texto me fez lembrar o que de fato tem valor na vida; aquilo que, de tão apressados e apreensivos com o futuro, deixamos de olhar, de reparar. De dar atenção de fato. Explico.

Penso todos os dias no que quero ser da vida. Em como planejar minha carreira, em como conseguir mais contatos. Sou jornalista, sou repórter; contatos e marketing pessoal são a minha vida. Respiro cartões de visitas e telefones e e-mails. Penso, todos os dias, como sofro incansavelmente atrás de novos contatos, de novos colegas, de novas oportunidades de entrar nesse meio. Veja bem: eu realmente acho que sofro.

Depois, eu sofro porque vou ao shopping e não consigo comprar as roupas e sapatos e bolsas e acessórios que quero. Meu salário não dá. Sofro porque não consigo comer todo final de semana nos restaurantes da moda. Não consigo ir ao cinema com a frequência que desejo. Não consigo terminar de decorar a minha casa do jeito que eu quero. Aliás, ainda não compramos a nossa casa (é um apartamento).

E essas são apenas as questões que me chegam na mente agora. Devem ter mais umas outras mil que eu reclamo, todos os dias, aos amigos, ao marido, aos meus pais. Até aqui mesmo, no blog. Tudo porque eu fiquei um bom tempo pensando no futuro. Pensando em como dar jeito no futuro agora, no presente. Nos planos que eu tenho que fazer, nas ações a serem tomadas.

Eu sofri, por algum tempo, tentando desesperadamente garantir que as coisas dessem certo. Querendo estar satisfeita, sempre. Agora e no futuro.

E, ao ler esse texto, eu me perguntei: e se, nesse instante, agorinha mesmo, um terremoto me levasse para debaixo de quilos e quilos de escombros? E se eu enfrentasse a morte, encontrasse com a bendita aqui, na minha frente?

É claro que eu jamais poderia prever a minha reação. Mas, ao ler esse texto, eu tive uma idéia. E certamente a minha casa, as minhas roupas, os restaurantes da moda e os móveis descolados não seriam lembrados.

Eu pensaria na minha família. Meu marido. Meus pais. Minha irmã. Com certeza na Princesa, minha cachorrinha. E depois do desespero de imaginar se todos estavam bem, eu pensaria em Deus. Eu oraria para que todos ficassem bem. Não importaria eu mesma; só desejaria ter a certeza de que todos iriam permanecer; de que todos estivessem bem. E diante de uma tragédia dessas, seria inevitável pensar no amor. O amor que sinto, o amor que tanto me deram. Nos amores que não vivi, nos que vivi intensamente e nos que ainda preciso viver. Talvez daí viesse a força para resistir. Daí viria a força para querer continuar vivendo um pouco mais.

Depois de ler esse texto, me senti egoísta e fútil. Eu não entendi a vida em sua profundidade e complexidade, não ainda. Mas me senti também aliviada. Por saber que existem outras pessoas, talvez muitas mais, que também não entenderam. E que sabem disso, e se deram conta da pequenez com que podemos viver a vida - ou da grandeza que ela pode ser, se soubermos como olhar direito.

E esse texto veio justamente no momento em que começo uma jornada. Estou buscando uma paz interna que, acredito, nunca senti antes. Talvez seja comum, a gente chegar aos 27 anos de idade e decidir que "a vida vai mudar". Não sei. Mas estou à procura daquilo que me faz feliz de verdade; daquilo que eu posso fazer, construir, conquistar e descobri; e da compreensão de que certas coisas não podem ser realizadas. Não por mim. Estou atrás daquela sensação de dever cumprido, de segurança, de clareza.

Porque, como Eliane Brum disse, em outra parte do texto, "a vida é para hoje, a vida é para já". Eu cansei de perder meu tempo. Eu não quero mais perder tempo.

E, por favor, leiam o texto. Vocês vão me entender.

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