Da raiva

O pior de sentir raiva, ao menos para mim, é que eu sou incapaz de ser má por conta disso. Não sou do tipo que destrata um cachorro na rua, ou manda um mendigo praquele lugar, ou desconta tudo em alguém que você ama muito.

Não, eu sou o tipo que se recolhe, que guarda tudo dentro do peito e fico lá, remoendo o que deveria ter dito, como deveria ter agido, o que deveria ter feito.

Ou seja, quando eu estou com raiva, a única pessoa que sofre sou eu.

Isso é extremamente revoltante porque eu não merecia sofrer. Na verdade, eu sou a única que não merecia isso.

E, no entanto, essas situações continuam a aparecer na minha vida, dia após dia, como que numa tentativa de me fazer ser má. Uma forma talvez de me fazer falar umas verdades a quem merece, e principalmente para quem não merece. Pelo simples prazer de passar adiante aquele sentimento ruim. Aquela impotência diante da ignorância, da arrogância, da falsidade. Da covardia.

O pior de sentir raiva é justamente isso: impotência. Se explicitar o que sinto, mas principalmente de dar um jeito naquilo que me causa tamanha perturbação na alma.