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sexta-feira, abril 30, 2010

O dia em que eu quase fui expulsa da Capela Sistina

Se você pretende um dia passar por Roma para visitar o Vaticano e a Capela Sistina, saiba que a única coisa que você vai ter que ter em estoques (tirando o dinheiro, obviamente) é paciência. MUITA paciência.

Isso porque o Vaticano é a maximização de todas as coisas sem sentido, arbitrárias e arrogantes da Igreja Católica. É tudo posto em prática na política de visitação dos locais sagrados - que, sim, são sagrados para os cristãos; mas, do meu ponto de vista, também são sagrados por serem magníficas visões artísticas de Deus de várias épocas.

O teste de paciência começa já na Basílica de São Pedro. Esqueça as filas; elas só servem para mostrar organização, não implementá-la de fato. Italianos não são muito acostumados a seguirem filas, então, imagine a bagunça. Mas o verdadeiro teste de paciência ainda está por vir.

Veja, ao entrar na Basílica, você tem duas opções de escada. Quer dizer, é a mesma escada, apenas está dividida em duas por uma daquelas cerquinhas de metal (se você imaginou aquelas que separam as multidões em shows de rock, acertou). Não há nenhum aviso visível dizendo as razões dessa curiosa divisão, portanto, você sobe qualquer uma - geralmente a que tem menos grupos de adolescentes se aglomerando na frente.

E é aqui que você dança. A fila mais cheia a bagunçada geralmente é a entrada de fato; o outro lado, vazio e tranquilo, é a entrada para os túmulos dos Papas e a subida para a torre da basílica. Até aí, OK, afinal, é só mexer a cerquinha e pronto, estamos no lugar certo. Afinal, é a MESMA escada. ERRADO! Um segurança nada simpático cuida para que nada, nada MESMO, seja movido fora da rota. E diz, com a maior cara lavada do mundo, que você vai precisar descer a escada e subir - a mesma escada - de novo.

Yep. Eu não estou brincando.

E aí, quando você saí da basílica e decide que é a hora de ir ver os túmulos dos Papas e subir na torre, você desce a escada e sobe mais uma vez, do lado certo.

Yep. É verdade.

Bom, depois dessa demonstração de falta de organização, você pensa estar vacinado. Mas a verdade é que, a partir disso, as coisas só tendem a degringolar.

A próxima parada é o Musei Vaticani. É lá que a Igreja Católica guarda estátuas romanas e gregas (embora eles sejam politeístas - não vejo sentido, mas...), quadros, tapeçarias, jóias (so much pelo voto de pobreza...), pinturas raras... é lá também que estão alguns dos mais importantes afrescos do mundo. Coisa fina, feita com ouro em algumas partes (again, so much pelo voto de pobreza...). Isso para não falar dos jardins - lindos, floridos, muito bem arrumados e limpos, com plantas combinando para cada ambiente. Realmente, um desbunde.

Eu poderia ficar o dia inteiro andando por lá. Mas eu não quero. Na verdade, ninguém quer. O que todo mundo quer mesmo, e para isso pagou a facada de 16 euros (isso dá algo em torno de 40 reais), é ver a Capela Sistina. Sim, o auge de Michelangelo, a Criação interpretada por um dos mais geniais artistas de todos os tempos que a humanidade conheceu - e, sabe-se que, por causa dessa genialidade toda, ele teve que dar alguns retoques na pintura, muito "moderna" para a época. Enfim, queremos ver o gênio, sua visão de Deus, do sentido da vida. O resto, bom, é resto!

Ou não. O Vaticano deve saber que ninguém quer perder tempo com jardins e tapeçarias, então resolveu tornar tudo isso parte obrigatória do passeio. Yep. Não é brincadeira. Você entra e várias plaquinhas te indicam o caminho da Capela. Mas esse caminho vai fazer você passar por TODAS as coleções do Vaticano - e não é força de expressão. Até arte moderna e contemporânea eu fui obrigada a ver. E o caminho é visivelmente forçado - temos que descer por escadas de incêndio e até passar por uma sala que está em restauração!

Pois bem, uns 50 minutos depois (não, eu realmente não estou brincando), com as pernas doendo e o humor e o entusiasmo indo para o saco, você chega na Capela Sistina.

Uhuuu!

Ou não.

Primeiro de tudo: escura. Muito escura. Só há iluminação natural, eu ouso arriscar. E o teto de Michelangelo, como vocês sabem, fica lááááááá em cima. Segundo: cheio. Muita gente. Mas isso dá para relevar. O pior mesmo são os seguranças. Vestidos em paletó preto, com escutas, alguns de óculos escuros (!), eles estão lá com o único propósito de arruinar a sua visita. Ficam fazendo "shhhhhhh" a cada dois minutos (como se fosse possível calar a boca diante daquela obra de arte!), não deixando ninguém sentar nos poucos apoios que existem na sala (lembre-se, você caminhou mais de 50 minutos), intimidando todo mundo com aquela cara de mau humor. É quase como se eles não quisessem que a gente pagasse os 16 euros (que vão para os cofres já gordos da Igreja) para ir lá ver o lugar.

Pois foi justamente um desses chatos remunerados que me pegou no flagra, enquanto eu sorrateiramente tirava a foto que ilustra esse post. Até aí, OK. Não pode, fazer o quê? O irritante foi o discurso safado que esse italianozinho ignorante me fez depois:

- Lembre-se, essa é a casa do Senhor. Precisamos de respeito.

Pára tudo. Eu visitei mais de 20 igrejas na Itália, todas me autorizaram a tirar fotos (sem flash). Isso quer dizer que nenhuma delas é a casa do Senhor???? E desde quando tirar foto é falta de respeito? Achei que falta de respeito fosse rir alto, blasfemar, xingar, gritar, tirar a roupa, dar um amasso, um beijo ousado, sair correndo, ofender, agredir, matar, destruir o patrimônio. Agora, chegar em mim, uma simples turista que resolveu tirar uma foto, e me falar em falta de respeito, depois de me fazer caminhar mais de 50 minutos no Vaticano e subir e descer a mesma escada sei lá quantas vezes????

Aff.

A Capela Sistina é linda. Se você quer ir, não desista, porque vale a pena, muito mesmo. Mas, se topar encarar o desafio, lembre-se: requer uma paciência quase divina.

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