Da serenidade

Tem uma casa no meu caminho. No meu caminho tem uma casa.

Indo para o trabalho, todos os dias. Sempre passo por ali. É uma casa de esquina, só a esquina na verdade fica um pouco mais para frente - em uma pracinha. Ou seja, tem a casa e na frente, uma pracinha. Bem cuidada, com árvores frutíferas e banquinhos.

Na casa vivem dois idosos. Acredito que sejam um casal. Bem cuidados, os filhos visitam sempre - é, eu passo lá todo dia e fico reparando, portanto, sei bastante da vida deles (que coisa, não é mesmo?).

A construção é meio moderna, com linhas retas e muito clean. Deve ser alguma coisa dos anos 60, saca? Prática, mas aconchegante. Adoro. Ainda mais porque o quintal é morada de três simpáticos e gordos labradores - dois na cor caramelo e um marrom. Invariavelmente, eu sempre passo por lá quando é hora do banho de sol das belezinhas.

Ah, a inveja.

Me pergunto, todos os dias que passo por lá, quanto tempo vai demorar para eu ter uma vida assim. Feliz. Serena. Em paz.

Ok, também penso quanto custaria a casa, se eles topariam me vender, se eu poderia parar um dia apenas para dizer: "oi, tudo bem, passo aqui todos os dias e adoro vocês, posso ser parte da família????". Mas suspeito que seria mal-interpretada.

Hoje, especialmente, fiquei tentada a parar. O sol estava ainda se colocando no dia e aquela brisa leve da manhã estava batendo nas folhas da árvore em frente ao jardim recém regado. Os cachorros deitados ali, olhando o movimento. As janelas abertas, o varal repleto de roupas esvoaçantes.

Quero uma vida assim. E bem depressa.