Inconstância

Eu tenho um desejo quase sórdido de querer definir absolutamente TUDO. Meus sentimentos, minhas sensações, as situações, as pessoas - enfim, tudo o que puder ser colocado dentro de uma definição. EU QUERO COLOCAR. O problema é óbvio: nem tudo cabe em definição, simples assim. Não dá para definir uma pessoa metida de ruim, uma fruta azeda de antipática e uma situação chata de desnecessária. Enfim, as coisas sempre têm um lado cinza irritantemente importante. E, apesar de aceitá-lo como real e palpável, eu simplesmente não sei como lidar com ele.

E isso se aplica muito a mim. Eu não sei muito bem como me definir. Penso nisso sempre que as pessoas me falam como eu sou otimista - algo que eu não sou de fato. Pra falar a verdade, quem me conhece bem sabe que eu sou bem pessimista. Mas, depois de cinco minutos de lamúrias e de acreditar piamente que o fim da vida chegou, eu enxugo as lágrimas, refaço a maquiagem e sigo em frente como se nada tivesse acontecido. E aí resta a dúvida: sou otimista ou não?

Também já ouvi que eu tenho muita paciência, mas quem me conhece a fundo sabe que paciência é definitivamente algo que me falta. Ô pessoa ansiosa! Mas eu gosto de ouvir, de dar conselhos, de dar um ombro para quem quer chorar. Ok, não é para qualquer pessoa, mas eu cedo meu ouvido vez por outra para ouvir os corações angustiados que me cercam. Mas, e aí, eu sou paciente ou não?

O fato é que eu poderia passar horas aqui enumerando coisas minhas e do universo inteiro, apenas para concluir o seguinte: eu odeio indefinição. E mesmo assim, o mundo é tão indefinido que eu me pergunto como é que podemos viver em ordem. Vai ver nem é ordem - é um caos, mas do caos surge um equilíbrio tênue que consideramos suficiente. E a essência disso é que não podemos nos definir, porque não podemos ser apenas um. Não sabemos ser uma coisa apenas, uma de cada vez; queremos experimentar tudo, viver tudo e sentir na pele todas as sensações que uma atitude diferente pode trazer. É impossível ser único, porque todos os dias queremos ser um único diferente. Sabe?

Ser único é segurança. Mas viver não é seguro. Ou seja: ainda estou aprendendo a viver.