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terça-feira, maio 25, 2010

Da vergonha

Desde que eu me conheço por gente, tenho muita vergonha. Não é vergonha de, bom, vergonha mesmo - aquela coisa de ser tímida. Não é bem isso. Eu tenho vergonha de não dizer a coisa certa na hora certa, ou de não saber fazer uma piada de forma apropriada, ou de falar demais quando deveria me calar - algo que eu faço com um talento assombroso, aliás. Eu tenho vergonha de não ser a mais inteligente da sala, ou a mais bonita das minhas amigas, a com o melhor corpo, a que come mais porcarias, que não consegue ser... perfeita.

Pois é. Eu tenho vergonha de não ser perfeita.

De tempos em tempos, essa minha dificuldade é colocada à prova. Ontem, durante a minha aula de inglês, o professor veio me perguntar porque eu subtamente emburreci. Não, ele não me disse isso dessa forma - eu estou dizendo. Não consigo fazer exercícios, não consigo falar. Os verbos saem errados, as preposições estão todas trocadas, e o vocabulário se tornou sofrível. Meu inglês retrocedeu ao macarrônico.

E, diante da sincera oferta de ajuda do meu professor, eu fiquei vermelha. Roxa, para falar a verdade. Eu não fui treinada para pedir ajuda, muito menos para dizer que eu não sei. Não sei o que acontece, não sei a matéria que estou estudando. Sim, sim, eu perdi um mês de aula e é absolutamente normal. Mas, para mim, aquela que tem vergonha de não ser perfeita, nada disso é normal. Pelo contrário.

Mais de uma pessoa já disse que sou arrogante, por causa dessa minha mania de saber tudo. Talvez eu seja mesmo - embora, dentro de mim, eu não sinta isso. Pelo contrário. Eu tenho a nítida impressão de que a única coisa que eu sei de fato, é que eu não sei absolutamente nada. E, quando revelo isso, o que ouço é: isso é falsa modéstia. Pois é. Nem quando me assumo imperfeita eu consigo ser perfeita.

Voltei para casa absolutamente humilhada. E, quando me sinto humilhada, a primeira coisa que faço é: fugir. Os livros estão no outro cômodo; eu não quero nem ver. Uma atitude que, claro, só faz me prejudicar ainda mais. Mas a verdade é que eu sinto saudades de quando esses problemas eram apenas... perfumaria. Quando eu me equilibrava entre os livros e o vestibular - e apenas isso. A marca do gol era logo aqui, estava perto. Era possível. E aí, quando virei "gente grande", a marca do gol começou a ficar cada vez mais distante, pedindo de mim cada vez mais força, mais disposição, mais determinação.

Eu tenho força. Vontade. Determinação. O problema é que, como qualquer estoque, esse tem limite. Eu só não quero que ele chegue antes do tempo.

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