Da morte
Já passava das sete quando o meu celular tocou. Era minha irmã. Seria uma ligação normal não fosse o fato de que minha avó, de 97 anos, estava internada em um hospital em Osasco. E aquele era o horário de visita que meus pais e minha irmã sempre frequentavam.
O esperado então tinha acontecido. Diante da hesitação na voz da minha irmã, eu entendi que a minha avó tinha falecido. E era tudo verdade. Depois de alguns meses de ida e volta do hospital, uma broncopneumonia afetou o sistema imunológico dela que, velhinha, sucumbiu à infecção. Septosemia, esse é o nome - mais conhecida como infecção generalizada. Uma hora o corpo desiste de lutar e simplesmente... desliga.
Foram cinco minutos de conversa. Não, não adianta eu ir até lá. Sim, meu pai estava bem. Sim, minha mãe estava com ele. Sim, eles me ligariam assim que a papelada do velório/enterro estivesse finalizado e eles soubessem onde seria.
Celular desligado, vem a estranheza. Acho que a melhor forma de descrever isso é imaginar que você conseguiu colocar uma roupa com câmera lenta e, enquanto o mundo continua rodando normalmente e as pessoas continuam agindo normalmente, você parou. Ou melhor, diminuiu a marcha de forma dramática. Os pensamentos invadem a mente por inteiro e demoram a passar.
E depois vem a pergunta: qual é o sentido? Ir para o inglês para conseguir o mestrado, ir para casa ver TV enquanto espero notícias. Não há sentido. Nenhum. A sua rotina se torna tão absurda que parece até uma piada ruim.
Peguei as chaves, entrei no carro e segui para o hospital. Cheguei achando que seria inútil... mas encontrei meu pai, sozinho, esperando chegarem com os documentos dela.
Afinal, nem tudo que eu sentia era tão sem sentido assim.
Tchau, vó. A gente se vê lá no céu.
terça-feira, agosto 24, 2010
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